sábado, 1 de janeiro de 2011

Abordagens Pedagógicas da Educação Física

No último século houve diversas propostas metodológicas de Educação Física, e todas essas tendências ainda hoje influenciam o profissional na sua formação (DARIDO, 2003).
Em 1851, a Educação Física foi incluída como matéria no currículo escolar, em 1854 a ginástica passou a ser disciplina obrigatória no ensino primário e a dança no ensino secundário, mas foi a partir de 1920 que os Estados começam a incluir a Educação Física nas suas reformas educacionais e frequentemente usam o nome de ginástica para esta prática (BETTI, 1991).
A partir de 1930, a Educação Física é marcada pela fase higienista. Essa fase teve como objetivo e preocupação central o desenvolvimento da aptidão física dos indivíduos. Neste mesmo momento histórico todas as aulas de Educação Física eram ministradas por militares e a Educação Física passou a ter como objetivo primordial formar pessoas disciplinadas e obedientes à realidade social da época (COLETIVO DE AUTORES, 1993).
Tanto a concepção higienista como a militarista consideravam a Educação Física como uma disciplina essencialmente prática, não necessitando de nenhuma fundamentação teórica para lhe dar suporte. Sendo assim, para ensinar os conceitos da disciplina nesse momento não era preciso dominar conhecimentos teóricos e sim ter sido um praticante das atividades propostas (DARIDO, 2004).
Logo após as Grandes Guerras, começa a surgir o modelo esportivista na Educação Física Escolar, sendo que os principais aspectos abordados pelos professores eram o rendimento esportivo, recordes, competição ao extremo e vitória no esporte como sinônimo de sucesso pessoal.
Nesse momento da história, a pedagogia tecnicista era a que mais permeava as aulas dos professores de Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1993).
Para Soares, Taffarel e Escobar (1993) neste momento o esporte tem espaço garantido em todas as aulas de Educação Física ministradas pelos professores, sendo que os outros conteúdos da cultura corporal de movimento, ginástica, jogo, dança e lutas, são colocados de lado no planejamento das mesmas. Com isso, as aulas de Educação Física na escola ficam pautadas nas técnicas e limites físicos que cada modalidade esportiva exige para que os alunos possam realizá-la.
Segundo Betti (1991), entre 1969 e 1974 o Brasil observa a associação do esporte com a Educação Física por uma estratégia do Estado. Nessa época a ditadura militar está implantada no país e os militares passam a investir forte no esporte.
O Brasil começa a participar de competições de alto nível de maneira concreta. Essa estratégia do Estado de conciliar Educação Física e esporte serviu para alienar as pessoas, pois nesse momento a ditadura militar era muito forte no país e os governantes conseguiam fazer o que queriam sem manifestação da população, muitas vezes mais preocupada com a copa do mundo do que com os problemas do país.
Para Castellani Filho (1993), apud Darido (2003), o estado tenta reprimir os movimentos estudantis para desviar as atenções dos estudantes das questões de ordem sócio-políticas, contribuindo para a construção de uma população alienada e despreocupada com a política.
Segundo Bracht (2000/1), o esporte foi escolarizado devido a diversos interesses: o interesse do sistema esportivo de conquistar consumidores e ajudar na produção de futuros atletas, o interesse do poder público de que o esporte fosse bem representado em competições internacionais. É importante ressaltar que para esses interesses serem atendidos o esporte escolar deveria ser realizado com a maior proximidade possível do esporte realizado no alto rendimento.
Na década de 80, o modelo esportivista começa a ser muito criticado pelos meios acadêmicos e a Educação Física passa por um período de valorização dos conhecimentos produzidos pela ciência. Nesse momento, rompe-se, ao menos em nível de discurso, com a valorização excessiva do desempenho como objetivo único da escola (DARIDO, 2003).
A partir daí começam a surgir as Abordagens de Ensino da Educação Física Escolar. Essas abordagens foram idealizadas por alguns pensadores da época que tinham o ideal de modificar a prática pedagógica mecanicista que os professores de Educação Física Escolar realizavam (DARIDO, 2003).
Azevedo e Shigunov (2000) relatam que as Abordagens Pedagógicas da Educação Física são definidas como movimentos que tentam uma renovação teórico-prática, com o objetivo de estruturar os campos de conhecimentos específicos da Educação Física Escolar.
Grespan (2002) diz que todas as Abordagens de Ensino da Educação Física Escolar foram criadas em oposição às concepções higienista, militarista, tecnicista, esportivista e biologicista da Educação Física. Todas as abordagens mostram estratégias diversificadas, tentando propor uma Educação Física Escolar com enfoque na formação integral do aluno, focando conhecimentos historicamente construídos e não discriminatórios.
Grespan (2002) acredita que o objetivo de todas as Abordagens de Ensino da Educação Física Escolar são muito similares, propondo que a Educação Física apresente conteúdos significativos, enfatizando a necessidade de um corpo docente sério e comprometido com o processo de ensino aprendizagem.
Darido (2003) relata que as principais abordagens pedagógicas da Educação Física Escolar são: Abordagem Desenvolvimentista, Abordagem Construtivista – Interacionista, Abordagem Crítico-Superadora, Abordagem da Psicomotricidade, Abordagem Crítico-Emancipatória, Abordagem da Saúde Renovada, Abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Aprofundando o quadro da Educação Física Escolar, Darido (2003) considera que as Abordagens de Educação Física Escolar mais adequadas para as séries iniciais do ensino fundamental são: Construtivista-Interacionista, Desenvolvimentista,
O quadro atual da área da Educação Física indica um aumento no número de livros, revistas, pesquisas científicas e de divulgação, aumento no número de professores com títulos de mestres e doutores, uma valorização da prática da atividade física na sociedade contemporânea, um aumento no número de praticantes de atividades físicas, além de uma incursão definitiva da mídia nas questões relacionadas à atividade física e ao esporte. Porém, todas essas transformações parecem não afetar significantemente o contexto das aulas de Educação Física nas escolas (DARIDO, 2003).
Como podemos perceber, aconteceram muitas mudanças nas teorias da Educação Física no passar do século, porém alguns autores afirmam que na prática as coisas não mudaram muito (ALBERTO, 2005; ANGELI, 2003; DARIDO, 1996; DORNELES, 2000; MACHADO et al, 2006; MEURER e PEREIRA, 2005; NASCIMENTO e LAOCHITE, 2007; ROCHA JUNIOR et al, 2003; RODRIGUES e GRAZIOTIN, 2006).
Oliveira (1992) diz que a prática pedagógica realizada pelos professores de Educação Física Escolar tem se baseado em autoritarismo e pouca reflexão, fazendo com que os alunos não participem de forma ativa das aulas. Além disso, o autor relata que as aulas de hoje em dia ainda estão sendo aplicadas apenas para ensinar a prática esportiva e preparar os alunos a jogar o esporte competitivo.
Bracht (1999) relata que a pratica pedagógica na Educação Física ainda está muito resistente a mudanças, pois os professores de Educação Física ainda apresentam pensamentos relacionados à aptidão física para a esportivização.
Darido (2003) aponta que apesar de todas as mudanças sócio-politicas vivenciadas nas ultimas décadas, por um discurso que supervaloriza a Educação, encontramos um cenário sombrio nas escolas nos dias de hoje, principalmente por que esse discurso não influenciou a prática pedagógica.
Neira (2006) acredita que a prática pedagógica da Educação Física Escolar nos dias atuais está baseada em conteúdos pré selecionados retirados de livros didáticos e esportes, fazendo com que o professor se torne um mero transmissor de conteúdos sem a participação efetiva dos alunos nas aulas, tornando a Educação Física uma disciplina fadada ao fracasso. Essa realidade pode estar ocorrendo porque a formação profissional dos professores de Educação Física por muito tempo evitou os conhecimentos científicos e foi extremamente tecnicista, tornando esses professores aplicadores de práticas pedagógicas
Além disso, é importante ressaltar que os problemas que ocorrem durante as
aulas de Educação Física Escolar podem proporcionar diversas reações por parte dos professores, e muitas vezes, por mais que conheçam diversas teorias de ensino, não conseguem pôr em prática o que aprenderam.


PRINCIPAIS ABRDAGENS DA EDUCAÇÃO FÍSICA


1- ABORDAGEM PSICOMOTORA

Abordagem psicomotora utiliza-se do movimento como um meio, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução do gesto técnico isolado.Podendo ser considerado um dos primeiros passos do rompimento com o modelo excludente até então predominante. De acordo com Lê Boulch o objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar.( p.15).
O desenvolvimento infantil ,segundo o Referencial Curricular Nacional (1998) a criança precisa brincar, ter prazer e alegria para crescer, precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo e através do lúdico a criança desenvolve.
Segundo Serapião(2004) a infância é caracterizada por concentrar as aquisições fundamentais para o desenvolvimento humano, pois é nessa etapa da vida que o indivíduo forma a base motora para a realização de movimentos mais complexos futuramente.
O tempo toda a criança age descobrindo, inventando, resistindo, perguntando, retrucando, refazendo,socializando-se. Neste momento é importante que a criança tenha um bom acompanhamento no seu desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial.
Segundo Darido (2000) a criança, por meio da observação, imitação, vivências diversas, experiências físicas e culturais, constituindo, dessa forma o conhecimento a respeito do mundo.
A escola tem um papel muito importante como facilitar a aprendizagens, estimulando o desenvolvimento integral da criança, através do trabalho em torno de desafios,fazendo que ela explore,crie e desenvolva sua habilidade com objetivo de expandir o seu potencial.
A Educação Física escolar desenvolve um papel importantíssimo, Ela pode oferecer experiências que resultam uma grande auxiliar e promotora no desenvolvimento integrado do aluno, desenvolvendo suas habilidades motoras e sua socialização.
Segundo Catunda (2005) o principal instrumento da educação física é o movimento, por ser o dominador comum de diversos campos sensoriais,o desenvolvimento do ser humano se dá a partir da integração entrea motricidade,a emoção e o pensamento.
A psicomotricidade é um termo empregado para concepção de movimento organizado e integrado. Assim, a psicomotricidade consiste na unidade dinâmica dos gestos, das atitudes e das posturas enquanto sistema, expressivo, idealizador e representativo.
Segundo Borges (2002) o intelecto se constrói a partir da atividade física. As funções motoras (movimentos) não podem ser reparadas do desenvolvimento intelectual (a memória, a atenção e o raciocínio) nem da afetividade (as emoções e os sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio da habilidade são fundamentais manifestações psicomotoras.
Segundo Darido (2002) aprendizagem motora, podemos afirmar que a aquisição de uma habilidade motora no adulto é o resultado de uma transformação de uma modificação de habilidade anteriormente adquirido e que constituem o repertório do indivíduo.
A educação física, tem um papel fundamental no aprendizado e conseqüentemente no desenvolvimento dos indivíduos,trabalhando funções psicomotoras que formarão a base e darão sustentação para a correta aprendizagem,contribuindo assim o desenvolvimento global das crianças.
Segundo Gallahue (2005) um dos precursores da utilização da educação psicomotora nas aulas de educação física afirma que a corrente educativa da psicomotricidade surgiu na França, em 1966, pela fragilidade da educação física, pelo fato dos professores de educação física não conseguirem desenvolver uma educação integral do corpo. Para ele, muitos desses professores centravam sua prática pedagógica nos fatores ligados à execução dos movimentos, tendo como principal objetivo de sua ação educativa chegar à perfeição desses movimentos, de forma mecânica.
Segundo Nunes (1998) na Educação Infantil, a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal. A abordagem da Psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço.
Atividade lúdica é todo e qualquer movimento que tem como objetivo produzir prazer quando de sua execução, ou seja, divertir o praticante. A atividade lúdica também é conhecida como brincadeira.
A criança que brinca livremente do seu jeito, a sua maneira acaba transmitindo seus sentimentos, idéias, fantasias.
Brincar é também raciocinar, descobrir, persistir e perseverar; aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar; esforçar-se, ter paciência, não desistindo facilmente. Brincar é viver criativamente no mundo.Ter prazer em brincar é ter prazer em viver; (MARCONDES ,MARINA,1994)
As crianças, ao jogar, aprendem a lidar com símbolos, a fazer estimativas, a calcular estratégias possíveis e, inclusive, a criar regras e convenções. E estas atitudes frente ao jogo, fazem com que sejam favorecidas as relações sociais das crianças.
Segundo Murcia (2005) as atividades nas quais uma ou mais criança se envolve numa brincadeira cooperativa, colaborativa ou competitiva, com ou sem objeto, dentro de estruturas certas ou no limites.
Os jogos contêm os benefícios desde prática de habilidade motora e específica e o aprimoramento da aprendizagem social.
Concluí que através das atividades que envolvem a psicomotricidade na Educação Física escolar, contribui melhor para o melhor conhecimento da criança, além de desenvolver cooperação, interação, desibinição, socialização, significa recrear-se, porque é a forma mais completa que o indivíduo tem de comunicar-se consigo mesmo e com o mundo.


REFERÊNCIAS

ALBERTO, A. A. D. Concepção de Educação Física dos professores do Ensino público de Macapá. Fiep Bulletin, v. 75, p. 107. Edição Especial, 2005.

ANGELI, E. N. A sistematização dos conteúdos nas aulas de Educação Física Escolar: a teoria na prática. 7º Encontro Fluminense de Educação Física Escolar. Niterói. Agosto, 2003.

AZEVEDO, S. E.; SHIGUNOV, V. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas de Educação Física. Revista Kinein, v. 1. n. 1, 2000.

BETTI, M.. Educação física e sociedade: a educação física na escola brasileira de 1o. e 2o. graus. São Paulo: Movimento, 1991.

BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas de educação física. Cad. CEDES. vol.19. n.48. Campinas Aug. 1999.

BORGES,Célio José. Educação Física para pré-escolar,Rio de Janeiro- RJ - Brasil, Ed. Sprint, 2002.


CATUNGA,Ricardo. Brincar,criar,vivenciar na escola,Rio de Janeiro- RJ - Brasil,Ed. Sprint, 2005.


COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993.


DARIDO,Suraya. Educação Física na escola, São Paulo- SP- Brasil, Ed.Guanabara Koogan, 2001.


DARIDO, S.C. (1996). Ação pedagógica do professor de Educação Física: estudo de um tipo de formação profissional científica.
(Tese de Doutorado). São Paulo: Instituo de Psicologia da Universidade de São Paulo.

DARIDO, S. C. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

DARIDO, S. C. Ensinar/Aprender educação física na escola: influências, tendências e possibilidades. In: DARIDO, S.C.; MAITINO, E. M. (Org.).

GALLAHUE,DavidL. Compreendendo o desenvolvimento motor de bebês,crianças,adolescentes e adultos,São Paulo- SP – Brasil, Ed. Phorte, 2005.

TOJAL,João. Da Educação Física para à motricidade humana, São Paulo- SP - Brasil, Ed. Manole, 2004.

SERAPIÃO; João de Aguiar: Educação Inclusiva: jogos para o ensino de conceitos; Publicado por Editora Papirus Ltda, 2004

MURCIA,Juan Antônio Moreno. Aprendizagem através dos jogos, Porto Alegre- RS –Brasil, Ed. Artmed, 2005.Nunes, Paulo de Almeida: Educação lúdica - o prazer de estudar técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Edições Loyola, 1998


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